A próstata é uma glândula masculina que se localiza na parte baixa do abdômen. Ela envolve a porção inicial da uretra, tubo pelo qual a urina armazenada na bexiga é eliminada. A próstata produz parte do sêmen, líquido espesso que contém os espermatozoides, liberado durante o ato sexual.
O Câncer de Próstata é um importante problema de saúde pública para os homens. Este é o tumor maligno mais frequente na população masculina, após o câncer de pele. As estimativas de 2020 do Instituto Nacional do Câncer (INCA) sinalizam para a ocorrência de 65.840 casos novos e a 15.576 mortes.
É considerado um câncer da terceira idade, já que cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. O aumento observado nas taxas de incidência no Brasil pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos diagnósticos (exames), pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento na expectativa de vida.
Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte. A maioria, porém, cresce de forma tão lenta (leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm³ ) que não chega a dar sinais durante a vida e nem a ameaçar a saúde do homem.
– Existem diferentes tipos de câncer de próstata?
Sim, existe!! Na maioria das vezes ele é um câncer indolente, ou seja, de desenvolvimento lento, não causa nenhum sintoma e nem causa prejuízos pra saúde.
Para exemplificar temos o seguinte dado: quando realizadas autópsias em homens de 80 anos, 50% deles tem células malignas em sua próstata. E esses homens não falecerem pelo câncer de próstata e nunca tiveram nenhum sintoma por conta dele. Ou seja, ele faleceu com o Câncer, mas não por causa do câncer.
Uma minoria dos casos de Câncer de próstata é agressiva e de crescimento e disseminação rápida. Os fatores de risco para esse tipo de Câncer são: Hereditariedade e cor de pele Negra.
Os homens negros têm uma probabilidade 10% maior de desenvolver o câncer de próstata, em comparação com brancos, índios e asiáticos. Neles a doença aparece mais cedo e costuma ser mais agressiva.
Caso haja algum parente próximo (pai ou irmão) no qual a doença foi diagnosticada antes dos 60 anos, o risco de se tê-la aumenta de 3 a 10 vezes quando comparado à população em geral.
Portanto, quando você for ao seu médico é imprescindível que conte a ele a sua descendência e seu histórico familiar!
– Quais são os sintomas do câncer de próstata?
O Câncer de Próstata na maioria dos homens tem um crescimento lento, sendo assim, na sua fase inicial ele normalmente não causa nenhum sintoma.
Mas a medida que a doença evolui o homem pode passar a apresentar alguns sintomas, como:
– Dificuldade para urinar: o jato da urina fica mais fraco e interrompido
– Necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou a noite
– Sangue na urina ou no líquido seminal
– Disfunção erétil
O Câncer de próstata em fase avançada pode provocar dor óssea, infecção ou insuficiência renal.
Entretanto, esses sintomas não significam que o seu diagnóstico seja necessariamente Câncer, inclusive o mais provável é que sejam por outras causas, como por uma infecção urinária ou por um crescimento benigno da próstata.
Por isso, todos os homens que apresentarem esses sintomas devem procurar imediatamente atendimento médico para que ele possa esclarecer o diagnóstico e orientar o tratamento!
– Existe como prevenir o Câncer de próstata?
A importância que a melhoria do estilo de vida tem em evitar o surgimento do câncer é muito maior do que se imaginar.
Segue a recomendação oficial mais recente da World Cancer Research Fund .
PASSE LONGE DA COMIDA PROCESSADA: Limitar alimentos processados ricos em gordura, amidos ou açúcares;
LIMITE O CONSUMO DE CARNES EM GERAL E CARNES PROCESSADAS: A redução de carnes e carnes processadas tem sido ligado à grande reducao no desenvolvimento do câncer em geral;
EVITE BEBIDAS AÇUCARADAS (refrigerante, sucos industrializados, bebidas adocicadas…);
EVITE A TOXICIDADE DO CORPO: Para a prevenção do câncer, é melhor não beber álcool e não fumar;
NÃO USE SUPLEMENTOS PARA PREVENIR CÂNCER: Para a maioria das pessoas, o consumo de alimentos e bebidas corretos tem maior probabilidade de proteger contra o câncer do que os suplementos alimentares;
Outras medidas importantes são:
EVITE EXPOSIÇÃO a aminas aromáticas (comuns nas indústrias química, mecânica e de transformação de alumínio), arsênio (usado como conservante de madeira e como agrotóxico), produtos de petróleo, motor de escape de veículo, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), fuligem e dioxinas.
– O que é rastreio? Quais as diferenças entre rastreio e diagnóstico precoce? Quais os exames de rastreio para o Câncer de próstata?
O RASTREIO para uma doença visa o seu diagnóstico ANTES que ela cause sintomas. Ou seja, é feito em pessoas aparentemente saudáveis.
O DIAGNÓSTICO PRECOCE é realizado rapidamente, a partir dos primeiros sintomas do paciente.
Existem dois métodos que tradicionalmente eram indicados para o Rastreio Populacional de Câncer de Próstata:
– Exame de toque retal – O médico avalia tamanho, forma e textura da próstata.
– Exame de PSA – É um exame de sangue que mede a quantidade de uma proteína produzida pela próstata – Antígeno Prostático Específico (PSA). Níveis altos dessa proteína podem significar câncer, mas também doenças benignas da próstata.
Entretanto, o Ministério da Saúde, a Organização Mundial da Saúde, o Instituto Nacional de Câncer, a Sociedade Brasileira de Urologia e a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, entre outros, não recomendam a realização do rastreamento do câncer de próstata por existirem evidências científicas de que o rastreamento produz mais dano do que benefício.
Eles orientam que a escolha por se rastrear essa doença deve ser individualizado para cada paciente. E que a população deve ser orientada quanto as medidas preventivas para o câncer de próstata e quais são os seus primeiros sintomas para que possamos fazer o seu diagnóstico precoce.
Quais são os possíveis danos do rastreamento do Câncer de Próstata?
O PSA e o Toque Retal são exames simples, e por si só não trazem riscos importantes para os pacientes. Entretanto devemos levar em consideração que alguns homens se sentem constrangidos e desconfortáveis em realizar o Toque Retal.
Então o problema não está nos exames em si, mas sim no caso de o resultado deles positivo. Nessa situação os homens provavelmente serão submetidos a outros exames, o que pode causar danos importantes.
Um a cada seis homens que se submetem ao rastreamento anual para câncer de próstata (com PSA e toque retal) por 11 anos terá a suspeita de Câncer de próstata, sem que esse câncer realmente exista!!!
Isto é chamado de resultado “falso-positivo”, e pode causar preocupação, ansiedade, e levar a outros exames que na verdade não seriam necessários. Dentre eles, a biópsia, por exemplo, que pode ter complicações como febre, infecção, sangramento, problemas urinários e dor.
Atualmente, quando um câncer de próstata é diagnosticado, não existem maneiras de prever com certeza se esse câncer nunca causará problemas e não necessita de tratamento ou se é um câncer agressivo. Isso significa que muitos cânceres diagnosticados não causariam problemas (chamamos isto de “sobrediagnóstico”).
Como existe tanta incerteza hoje em dia sobre quais cânceres de próstata precisam ser tratados, quase todos os homens com este câncer descobertos através do PSA e toque retal são tratados com cirurgia, radioterapia ou tratamento hormonal. Muitos desses homens não necessitam de tratamento porque o seu câncer não vai crescer ou causar problemas. Isso é chamado de “sobretratamento”.
O tratamento para o câncer de próstata também pode disfunção erétil e incontinência urinária como consequência da cirurgia, problemas intestinais devido à radioterapia e um pequeno risco de morte ou complicações sérias devido à cirurgia.
A imagem abaixo pode ajudar a entender melhor o que sabemos hoje com relação aos riscos e benefícios do rastreamento do câncer de próstata com o PSA e o toque retal. É uma representação com base nas pesquisas mais recentes que mostra o que acontece quando comparamos dois grupos de mil homens com as mesmas características e riscos de desenvolver câncer de próstata.
Ambos os grupos foram acompanhados por 11 anos. O da esquerda são homens que não realizaram qualquer tipo de rastreamento para o câncer, enquanto que os homens do grupo da direita realizaram PSA e toque retal sistematicamente.
Após 11 anos de acompanhamento podemos observar que o número de homens que morreram por câncer de próstata é o mesmo nos dois grupos (7 homens). Contudo, no grupo que fez o rastreamento, 20 homens foram diagnosticados e tratados para o câncer sem necessidade e 160 homens sem câncer tiveram resultado falso-positivo e realizaram biópsia também sem necessidade. Ou seja, em resumo, ao final de uma década, no grupo que não realizou rastreamento 783 homens estavam sadios e não sofreram danos, enquanto que no grupo que fez rastreamento apenas 603 homens estavam nesta situação.
Portanto, sugerimos que antes de realizar os exames de rastreio atualmente disponíveis converse com o seu Médico sobre os dados desses estudos.
– Se o rastreio POPULACIONAL do Câncer de próstata produz mais dano do que benefício, porque estre continua sendo difundido?
A partir do post anterior você deve estar se perguntando: Por que apesar de o Instituto Nacional de Câncer (INCA), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde (MS), da Sociedade Brasileira de Urologia(SBU), da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) dentre outros tantos órgãos nacionais e internacionais contraindicarem o rastreio populacional do Câncer de próstata este continua sendo difundido pela mídia como sendo algo imprescindível?
Por mais de década o rastreio populacional para o Câncer de Próstata era indicado para todos os homens acima de 40 ou 50 anos e a sua importância foi amplamente difundida nos meios de comunicação. Isso foi embasado em resultados de estudos iniciais que nos diziam que: se nós fizéssemos o rastreio através do exame de PSA e do exame de toque retal aumentaríamos o número de homens diagnosticados com a doença e que esse diagnóstico seria precoce.
E esses estudos justificaram naquela época a difusão de tais medidas de rastreio.
Entretanto, há aproximadamente 8 anos esses, estudos “evoluíram”, passaram a ter critérios mais rigorosos de análise e buscaram a seguinte resposta: Fazer rastreio populacional faz com que os homens vivam mais tempo e com uma melhor qualidade de vida?
Afinal de contas, só vale a pena saber que se temos uma doença se essa for prejudicar de alguma forma o nosso bem-estar ou se ela for diminuir o nosso tempo de vida. Diferente disso, causamos mais danos do que benefícios aos pacientes.
E a resposta foi: “Não”.
Devemos lembrar nesse momento os posts que explicaram o caráter indolente da maioria dos casos de Câncer de Próstata, o que leva a um sobrediagnóstico, com consequentes sobretratamento e seus possíveis efeitos colaterais.
Entretanto essa informação ainda é nova dentro da própria Medicina e a medida que os estudos se tornam maiores e mais consistentes, ela tem ganhado força dentro da comunidade científica.
O próximo passo agora é a conscientização da população sobre essa nova informação:
A escolha por se rastrear o Câncer de Próstata deve ser individualizado para cada paciente, e uma decisão compartilhada entre você e o seu médico/a.
– Existem pessoas para as quais os exames de rastreio para o câncer de próstata devem ser solicitados?
Sim! Essa decisão deve ser tomada de forma conjunta com o seu médico. Ele levará em conta o seu risco individual de ter essa doença. O objetivo é identificar os pacientes que apresentam o câncer de evolução rápida e progressivo com grande capacidade de invadir outros locais do corpo.
O PSA e o Toque retal, de forma isolada, não diferenciam o câncer de desenvolvimento lento do câncer agressivo. Diversos testes estão sendo desenvolvidos para melhorar a acurácia do rastreamento do câncer se próstata, entretanto, neste momento, não existe evidência científica suficiente para apontar se eles são precisos.
E, para finalizar a semana dedicada ao Câncer de próstata indicamos a leitura do artigo publicado em agosto de 2018, com as evidências mais atuais sobre o assunto e intitulado: Rastreamento populacional para o câncer de próstata: mais riscos que benefícios.
Referências:
https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-prostata
https://www.scielosp.org/article/physis/2018.v28n2/e280209/#
https://www.ufrgs.br/telessauders/noticias/novembro-azul-nao-e-outubro-rosa .